Notícia por 4 Rodas – Dados da Anfavea, associação das fabricantes instaladas no país, apontam prejuízo bilionário gerado pelo setor na última década. De quem é a culpa?
Confira também no blog do Posto de Vistoria: Excesso de radares tem justificativa – Uma minoria de motoristas infratores
A Anfavea (Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores) divulgou nesta quinta-feira (6) um balanço de evolução do mercado brasileiro na última década, entre 2010 e 2019.
De acordo com o órgão, a indústria automotiva nacional registrou um déficit de US$ 24 bilhões no período, o que, na atual conversão entre dólar e real, equivaleria a R$ 102 bilhões.
Em seu cálculo, a Anfavea leva em conta, com dados do Banco Central do Brasil, o balanço entre aportes financeiros das matrizes versus remessas de lucros e dividendos. QUATRO RODAS já havia apontado essa tendência no fim do ano passado.
Os dados oficiais da associação apontam que, enquanto as filiais receberam US$ 29,2 bilhões em investimentos, remeteram US$ 18,9 bilhões, uma diferença de US$ 10,3 bilhões (ou R$ 43,6 bilhões).
Mas não teria ficado só nisso. Ainda segundo informações da Anfavea, as fábricas locais receberam US$ 46,7 bilhões em empréstimos das matrizes no período, ao mesmo tempo em que foram capazes de amortizar US$ 32,9 bilhões. O degrau, aqui, é de US$ 13,8 bilhões negativos (ou R$ 58,4 bilhões).
De quem é a culpa? Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, aponta alguns fatores. O mais grave, para ele, seria a forte crise econômica que afetou o Brasil entre 2014 e 16, quando o mercado automotivo nacional caiu mais de 40% (de 3,71 milhões de veículos produzidos em 2013 para 2,18 milhões em 2016.
Modalidade | Participação no capital(em US$ bilhões) | |
Aportes líquidos | Lucros e dividendos remetidos | |
2010 | 0,4 | 5,8 |
2011 | 1,1 | 5,0 |
2012 | 1,1 | 3,0 |
2013 | 1,8 | 3,1 |
2014 | 2,9 | 0,8 |
2015 | 4,4 | 0,1 |
2016 | 6,6 | 0,1 |
2017 | 3,9 | 0,1 |
2018 | 4,5 | 0,3 |
2019 | 2,5 | 0,4 |
Mesmo com a lenta recuperação vivida a partir de 2017, ainda assim o faturamento das fabricantes saiu de um pico de mais de US$ 90 bilhões registrado em 2011 para cerca de US$ 60 bilhões em 2019, queda de 35%.
Também conforme adiantado por QUATRO RODAS, a balança do setor virou abruptamente de 2013 para 14. Entre 2010 e 13, a indústria registrou superávits constantes na remessa de lucros e dividendos (embora já com tendência de desaceleração), totalizando saldo positivo de US$ 13,5 bilhões (R$ 57,1 bilhões).
Modalidade | Empréstimo intercompanhia(em US$ bilhões) | |
Ingressos | Amortizações | |
2010 | 0,7 | 0,4 |
2011 | 1,2 | 0,3 |
2012 | 0,5 | 0,2 |
2013 | 2,0 | 1,2 |
2014 | 3,0 | 1,7 |
2015 | 5,7 | 3,5 |
2016 | 5,5 | 6,1 |
2017 | 9,3 | 6,8 |
2018 | 10 | 6,7 |
2019 | 8,8 | 6,0 |
Se considerado só o período de 2014 a 19, o prejuízo entre remessas e aportes foi de US$ 23 bilhões (R$ 97 bilhões). Já em relação a empréstimos e amortizações, o saldo foi negativo em todos os anos da década exceto 2016.
Como consequência, o Brasil caiu de quarto maior mercado do mundo em 2014 para oitavo em 2018, com perspectiva de que tenha voltado a subir ao sexto lugar em 2019 (os números ainda não foram comparados).
Outro fator, na visão do executivo, foi a falta de evolução nos números de exportação. O percentual de veículos exportados em relação ao total da produção jamais passou de 28% (dado de 2017) ao longo da década, tendo ficado em apenas 14% no ano passado. Já o faturamento oscilou sempre entre US$ 3,9 bilhões e US$ 6,6 bilhões, ficando em US$ 5,3 bilhões em 2010 e US$ 4,5 bilhões em 2019.
“Exportação é nosso grande desafio. Precisamos ser mais competitivos e amarrar mais acordos para não ficarmos tão dependentes da América do Sul”, avalia Moraes, que aponta a Argentina como a principal responsável pela queda recente nos números.
Além disso, segundo ele, cerca de 12,5% do valor de cada veículo brasileiro exportado seria formado por resíduos tributários. “Nenhum país exporta impostos como o nosso. E nenhum mercado quer pagar imposto de outro pais”, analisa.
Automóveis de 1000cm3 | % de imposto |
2010 (31/01 a 31/03) | 24,4% |
2010 a partir de abril | 27,1% |
2011 | 27,1% |
2012 (23/08 a 31/12) | 22,2% |
2013 | 23,1% |
2014 | 24,4% |
2018 a 2019 | 27,1% |
Para a Anfavea, este é o terceiro fator: a carga tributária brasileira seria responsável por abocanhar 30% do faturamento da indústria. Pelos cálculos da entidade, impostos formaram 27,1% do preço de um carro 1.0 flex em 2018 e 19, e 29,2% de um veículo também bicombustível com motorização até 2 litros.
Automóveis com mais de 1.000cm3 a 2.000 cm3 – Etanol/ Flex | % de imposto |
2010 (31/01 a 31/03) | 27,1% |
2010 a partir de abril | 29,2% |
2011 | 29,2% |
2012 (23/08 a 31/12) | 23,4% |
2013 | 26,8% |
2014 | 28% |
2018 a 2019 | 29,2% |
Por fim, a associação aponta que apenas 53% dos carros novos vendidos no país são negociados com financiamento, enquanto chega a 85% nos Estados Unidos e a 89% no Reino Unido.
Fonte original da notícia: 4 Rodas
Confira também no blog do Posto de Vistoria: Gasolina e Etanol mais caros do Brasil estão no Rio de Janeiro
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.