Texto por Revista Auto Esporte Eles são poucos, mas causam muito estrago. A imprudência e o descaso causam acidentes, mortes e prejudicam o trânsito ao impor a todos uma incômoda (e imprescindível) fiscalização.

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Subindo uma ladeira a caminho de casa, perto das dez da noite, presencio uma cena esdrúxula, para falar pouco. À minha frente, um Chevrolet Classic preto ganha muita velocidade, abre distância, desvia ligeiramente para o centro da via e dá um cavalo-de–pau. É uma rua de mão dupla, e a proeza é observada só por mim. E pelos frequentadores do boteco diante do qual o carro conclui a manobra e encosta junto ao meio fio.

Evidente que a gracinha não poderia acontecer diante de um policial ou agente de trânsito, ainda que a rua estivesse vazia. Muita coisa ocorre nas ruas apenas porque ninguém está vendo.

É bastante comum entre motoristas de ônibus avançar bons segundos antes de o sinal fechado ficar verde. Eles estão todos os dias naquele itinerário, têm certeza de onde ficam os radares e os fiscais. Quando não há nada, podem sair antes dos demais.

Motoristas de automóveis de luxo, de carros caindo aos pedaços, de utilitários ou de caminhões transportando caçambas de entulho. Quando o excesso de velocidade e a imprudência atropelam a sensatez, todos se igualam na condução agressiva e ameaçadora aos demais usuários das ruas.

Digo todos com relação ao tipo e à conservação dos veículos, porque na verdade é uma minoria que insiste em passar a 100 km/h por um grupo de carros que se desloca a 40 km/h.

Essa minoria teme apenas ser flagrada pelo que gosta de chamar de “indústria da multa”. Se ninguém está vendo — fiscal, câmera ou radar —, vale tudo. Alguma incerteza pode conter a imprudência se o motorista não tiver convicção da presença de um radar. Ou podia, pois o presidente da República mandou recolher todos os aparelhos móveis.

Já a maioria pensa diferente. Pesquisa do Instituto Datafolha feita em julho já mostrava que a rejeição dos brasileiros às propostas de abrandamento na legislação de trânsito é ainda maior do que a reprovação ao decreto das armas. Dos 2.006 entrevistados, 67% disseram ser contra a desativação de radares nas rodovias e 41% disseram temer que as mudanças deixem o trânsito ainda mais violento.

Nós seres humanos temos uma tendência a assumir riscos desnecessários. Convido a todos para saber um pouco mais da origem desse comportamento e como ele impacta nossas atitudes no trânsito assistindo à entrevista que o cientista Altay de Souza deu para Autoesporte. Está em nosso canal no YouTube – confira abaixo.

Altay afirma que parte de nossas ações ainda resulta da seleção natural. Mas o machismo também comparece para dar sua contribuição. Das 55 pessoas que, por acidente, despencaram para a morte no Grand Canyon em 2015, 39 eram homens.

Assistimos todos os dias, nas ruas, avenidas e estradas, ao resultado dessa combinação de baixo autocontrole, exibicionismo e excesso de testosterona. Com alguma frequência, na manhã seguinte podemos acompanhar o resultado disso no noticiário, por meio de imagens de ferragens destroçadas e da locução que reporta o número de vítimas.

Motoristas agressivos são minoria, mas é por causa deles que os radares estão por aí. E, em nome do interesse comum, deveriam continuar.

Fonte original do texto: Revista Auto Esporte

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