Revista Auto Esporte – A alta quilometragem afasta compradores pelo receio de custo elevado com eventuais problemas mecânicos. Essa preocupação faz sentido, mas nem sempre é o caso.
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O hodômetro é um dedo-duro que pesa contra (ou a favor) do vendedor quando chega a hora de passar o carro adiante. Quando o contador registra um número elevado, pode crer: a depreciação do bem irá aumentar.
Para o comprador, pode ser uma vantagem. Pagar menos que a tabela de referência por causa da quilometragem alta. Mas essa vantagem tem um risco. O barato pode sair caro, já que o preço mais em conta pode vir acompanhado da necessidade de reparos e revisões caras.
Antes de dispensar o candidato à vaga de sua garagem, vale a pena analisar caso a caso. Um veículo mais novo certamente dispensa grande parte das preocupações no que diz respeito à parte mecânica, principalmente por ainda estar dentro de garantia de fábrica. Já existem, inclusive, planos de manutenção estendida e garantia sem limite de quilometragem.
Na prática, os especialistas afirmam que não há necessariamente relação comprovada entre o estado do veículo e a sua quilometragem rodada.
Uma prova disso é o uso em rodovias, por exemplo. Nestes caso, a quilometragem será maior, mas o veículo circula em condições ideais, ou seja, com menos troca de marchas, menos tráfego urbano, menos desgaste de peças mecânicas.
Ou seja, um carro com alta quilometragem feita em rodovia é, na verdade, um excelente negócio. Na estrada, a velocidade constante e os longos trechos fazem com que o carro rode por grandes distâncias em sua condição ideal de funcionamento (isso inclui temperatura e regime de giro). Até a suspensão e carroceria sofrem menos nessa condição.
Os carros de uso urbano acabam ficando muito tempo no trânsito. E isso tem um peso que o hodômetro ignora: o tempo de funcionamento do motor em horas.
Por exemplo, em grandes cidades é possível levar até duas horas para concluir um trajeto de 20 quilômetros. O hodômetro irá registrar pouco, mas isso significa que o veículo andou por um tempo significativo a meros 10 km/h, no anda e para, e centenas de trocas de marcha e acionamentos de embreagem.
Essas condições são caracterizadas como “uso severo“. Como muitos usuários só trocam óleo olhando para a quilometragem, não para o tempo de uso, é possível que o fluido seja substituído muito além do prazo ideal. Ou seja, manutenção irregular e maior possibilidade de problemas mecânicos – apesar da quilometragem baixa.
Se tomarmos o mesmo carro rodando duas horas seguidas, mas a 100 km/h, teremos no hodômetro 200 km adicionais. Porém, o percurso foi feito com refrigeração adequada, poucas trocas de marcha e rotação constante do motor.
Para o engenheiro mecânico e proprietário da Oficina Motor-Max, Rubens Venosa, um carro com quilometragem mais elevada não é necessariamente um carro velho e que desperte desconfiança: “um carro de alta quilometragem pode não ter sido usado por muito tempo. O motorista pode, apenas, andar muito em estradas”, explica. “Nas estradas, o motor trabalha em regime constante, tem menos acionamento do freio, menos troca de marcha.”
“A qualidade de um carro seminovo não depende da sua quilometragem, mas sim da forma como ele foi utilizado nos anos anteriores”, afirma o coordenador do MBA de Cadeia Automotiva da FGV, Antônio Jorge Martins.
Em linhas gerais, só vale a pena comprar um carro muito rodado quando a quilometragem for o fator de menor importância na avaliação geral do carro.
Para Venosa, se a manutenção preventiva no carro foi feita em dia e se há registros dos locais, datas e peças utilizadas, a quilometragem não é fator determinante. Mas se a idade do carro não interfere, qual é o grande critério de avaliação?
Histórico
O histórico do seminovo conta, e muito. Aqui, há duas possibilidades: a primeira é quando o antigo (ou antigos) proprietários, apesar de circularem muito com o carro, realizaram as revisões em dia, manutenções preventivas e tiveram cuidado com o veículo. A outra, é quando o antigo dono não fez nenhuma dessas coisas e acabou descuidando do carro, independentemente de sua quilometragem.
Nesses casos, mais importante do que a rodagem é atentar-se ao estado de conservação do carro em linhas gerais, avaliando o interior e também o exterior, como a lataria e pintura.
Hodômetro real
Desconfie sempre: atente-se ao hodômetro e veja se a quilometragem apontada é compatível com a idade do carro. Tudo tem que coincidir: tempo de uso, a condição do acabamento interno, pintura e pneus. Um hodômetro “baixo” em um carro desgastado pode ser sinal de adulteração da marcação, embora a prática seja considerada crime. Atente-se ao desgaste de volantes, manoplas, bancos e pedais.
Registros
Um carro de alta quilometragem nem sempre está com seu primeiro dono. Por isso, é possível que já não tenha mais acesso aos registros originais, como os comprovantes de manutenção do carro, por exemplo. Para isso, a saída é levar o veículo em uma oficina de confiança para uma avaliação das condições mecânicas do carro e qualidade das peças.
Avalie o motor pelos ruídos, vazamentos, fumaça e também o câmbio. Para Venosa, carros acima de 150 mil km não devem ser comprados sem essa avaliação prévia: “A partir desse ponto, a quilometragem pouco importa, e sim as condições mecânicas”.
Preço
Outro detalhe importante é o preço. Vale lembrar que os valores base já são determinados pela tabela Fipe, que leva em consideração o estado de conservação, quilometragem e ano de fabricação do veículo. Mais uma vez, tudo isso deve estar em sintonia.
Dois modelos semelhantes fabricados no mesmo ano, mas com quilometragens muito diferentes devem ter preços diferentes também. Quando se trata de carros com maior rodagem, é aconselhável que se compare os preços com o mesmo modelo, e o mais rodado deve consequentemente ter menor preço, pela possibilidade de manutenções futuras.
De acordo com Martins, comprar um usado com alta rodagem não necessariamente representa um prejuízo financeiro, mas na maioria das vezes, é sinônimo de vantagem para o comprador. “Um seminovo é economicamente e financeiramente mais vantajoso, porque você deixa de contar com a alta depreciação que um carro novo possui em curtos períodos de tempo” explica.
Para ele, outra tendência do mercado automotivo que acaba se tornando um facilitador na compra de um seminovo é a extensão do prazo de garantia de fábrica. Com prazos maiores, o proprietário pode comprar um carro usado ainda dentro da garantia concedida pela montadora, e com isso sentir-se mais seguro com relação à possíveis problemas.
A média percorrida anualmente por motoristas brasileiros é de 15 a 20 mil km, de acordo com Martins. Sendo assim, um número muito acima disso é considerado fora da média do mercado, o que faz com que os consumidores evitem de imediato.
Se tivermos carros com o mesmo ano de fabricação, mas diferentes quilometragens e ambos ainda com garantia de fábrica, a diferença virá pelo preço.
Para ele, a análise técnica é o detalhe mais importante que antecede a compra: “você deve saber analisar, ou conhecer alguém que saiba analisar a sua compra de forma técnica , inclusive na questão de preço pedido pelo carro, mas certamente, se a mecânica está em boas condições, você só tende a ganhar”, conta.
Fonte original do texto: Revista Auto Esporte – https://revistaautoesporte.globo.com/Noticias/noticia/2018/10/vale-pena-comprar-um-carro-muito-rodado.html
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