Texto por Revista AutoEsporte Diminuição da procura pela 1ª CNH é um fenômeno mundial e vem decaindo desde 2015; representante das autoescolas alega que sistema precisa mudar.

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Tirar carta hoje em dia não está mais nas prioridades de quem completa 18 anos. O documento que era um dos principais sonhos de consumo dos jovens está em queda.

Dados do Detran-SP, apontam que a emissão da 1ª carteira de habilitação apresentou quedas consecutivas, desde 2014 até agora. Será que a razão para essa queda está somente no preço e tempo gasto ou é reflexo dos novos hábitos da geração Y?

Em 2014, 2.995.294 pessoas receberam sua primeira carteira de habilitação em todo o Brasil. No ano passado, esse número caiu para 2.086.820. A queda foi de quase um terço na emissão da primeira CNH.

Se considerarmos apenas a emissão da carteira do tipo B (somente para carro), o decréscimo foi de quase 30% de 2014 para 2018.

FONTE: DETRAN-SP

Algumas mudanças sancionadas pelo presidente Bolsonaro em junho, prometem encolher em 15 a 20% do preço para tirar a CNH, como o fim da obrigatoriedade das aulas de simulador.

Segundo o Ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, “essa a medida visa reduzir a burocracia na retirada da habilitação”. Porém a categoria das autoescolas vê com receio as novas mudanças.

Magnelson de Souza, presidente do Sindicato das Autoescolas de São Paulo (SindiAutoescola), aponta alguns fatores que levaram ao desinteresse da geração atual a não tirar carta.

Ele explica que é um fenômeno mundial no comportamento. “Essa geração é mais tecnológica, o jovem não tem o mesmo interesse de antes em se habilitar”.

É o caso de Natália Vitória, estudante de 21 anos. Moradora de São Miguel Paulista, no extremo leste de São Paulo, a jovem admite que a habilitação nunca foi seu desejo “Número 1″. Preferiria usar o dinheiro com gastos da faculdade e uso próprio. “Talvez ano que se torne prioridade”, diz.

Outro ponto abordado por Souza é a responsabilidade de ter um veículo hoje em dia, principalmente na questão financeira. “São custos com seguro, revisão e combustível. É uma série de encargos que fazem os jovens privilegiarem o transporte público”, comenta.

A responsabilidade no trânsito é um grande receio de Natália, que alerta sobre a consciência ao volante. “Além da minha vida e das pessoas que estão dentro do carro comigo, existem outras pessoas. Muita gente acaba burlando uma lei ou outra e pode trazer consequências sérias”.

Muito custo e pouco benefício

A aquisição do automóvel requer um grande esforço financeiro. Além da compra, o uso do automóvel também custa muito caro. Ao contrapor o custo do quilômetro rodado com as alternativas de mobilidade, ter um veículo próprio acaba sendo um luxo desnecessário em muitas vezes.

Nos últimos anos, outra evidência que dificulta a compra: os preços dos automóveis subiram além da inflação. Com os salários sem aumentos equivalentes, e sem o pleno emprego para jovens, a compra de um carro para chamar de seu passa a ser um desejo secundário.

CNH custa caro

O representante da categoria das autoescolas reflete que é preciso rever o processo de emissão, desburocratizar e reduzir custos, mas com estudos que comprovem a segurança em mudar a metodologia.

Hoje a autoescola é vista como um autodespachante. Isso é um equívoco. A autoescola deve ser uma escola. Se não entendermos isso, vamos sair do mercado rapidamente”, admite.

A autoescola precisa se reestruturar, mas com ações governamentais

Magnelson de Souza acredita que o sistema para tirar a primeira habilitação precisa mudar. Porém, é necessário também um protagonismo dos governos estaduais e federais.

Esse trabalho conjunto buscaria tornar a instituição não apenas um lugar para ensinar futuros condutores a serem aprovados no exame prático. Mas sim ensinarem os alunos a enfrentarem todas as condições adversas cotidianas e tornar a instituição uma escola de trânsito.

A VASTA MAIORIA DA FROTA NACIONAL DE TRANSPORTE PÚBLICO É DE ÔNIBUS, ASSIM APONTA A PESQUISA DA NTU (FOTO: NTU – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DAS EMPRESAS DE TRANSPORTES URBANOS)

Apesar de morar na cidade com maior e mais completa frota de transporte público, Natália presume que seria bem mais cômodo se tivesse seu próprio automóvel, já que passa quase quatro horas dentro de ônibus e metrô todo os dias. “Eu sempre pego transporte público na hora e pico. É muito cansativo tanto para ir de manhã quando para voltar, você já chega cansado no trabalho e volta para casa pior ainda”. Mesmo assim, entre gastos com uma possível viagem ou com uma CNH, Natália escolhe a primeira sem pensar duas vezes.

A tecnologia e a conectividade completa o ciclo para a falta de necessidade de dirigir. Além dos modais públicos, os aplicativos de transporte também são soluções muito convidativas para locomoção a custo baixo.

Não são raros os caros de ex-motoristas que venderam seus carros e passaram a andar de Uber, 99, Cabify e outras empresas. Quem não tem carteira, não tira. Quem já tem, usa para substituir o RG e CPF.

Fonte original do texto: Revista AutoEsporte

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