São Paulo — Quem apostou que as SUV seria uma ‘moda passageira’ perdeu. Os utilitários-esportivos já representam 20,8% das vendas de automóveis e comerciais leves no País e ultrapassaram, pela primeira vez, ainda que discretamente, o mercado de sedãs no primeiro trimestre.

Utilitários-esportivos ultrapassaram, pela primeira vez, ainda que discretamente, o mercado de sedãs no primeiro trimestre

A previsão dos fabricantes é de que os SUVs, como são chamados, fiquem com 30% da fatia das vendas em até três anos, alçando o segmento à liderança do mercado e deixando para trás os automóveis hatch, hoje os preferidos do brasileiro.

Seguindo a tendência mundial, o mercado de SUVs é o que mais cresce no Brasil. De 2010 até o ano passado, quase dobrou de tamanho, saindo de 215,7 mil unidades para 414,5 mil. Só no primeiro trimestre deste ano, os negócios aumentaram 34,4%, para 109,8 mil unidades, enquanto o mercado total cresceu 14,7%. As vendas de sedãs somaram 109,3 mil unidades.

Anos atrás, esse mercado era dominado por modelos importados. Mas a alta constante das vendas tem levado as montadoras a nacionalizarem a produção. Dois exemplos são o Jeep Renegade e o Compass, fabricados em Goiana (PE).

Não é à toa que há 22 lançamentos de utilitários-esportivos previstos para este ano, entre modelos nacionais e importados. “O Brasil está indo em direção à tendência global (de vendas de SUVs), especialmente em relação a EUA e China”, diz Rodrigo Custódio, diretor da consultoria Roland Berger.

Nos dois países e no Canadá, o segmento responde por 40% do mercado de automóveis e comerciais leves. Segundo levantamento da consultoria Jato, o Brasil, com 20% das vendas voltadas a esses veículos, se equipara às fatias registradas por Alemanha, França e Índia.

A menor participação verificada entre 17 países pesquisados foi a do Japão, com 8% das vendas. “O mercado de SUVs é um dos que concentram mais novidades e lançamentos nos últimos anos”, afirma Rafael Abe, diretor da Jato.

No mundo todo, foram vendidos, no ano passado, 29,5 milhões desses veículos, o equivalente a 31,2% do mercado de automóveis e comerciais leves. Em 2010, essa participação era de 14%.

O que atrai os consumidores para esse tipo de veículo é a sensação de conforto e segurança ao dirigir – por serem carros mais altos em relação aos demais e permitirem melhor visão do exterior –, o espaço amplo para os ocupantes e o porta-malas com boa capacidade de carga. Nas versões com tração nas quatro rodas, a vantagem é poder rodar em qualquer tipo de terreno.

Há modelos à venda para várias faixas de consumo, de R$ 60 mil (JAC T-40 e Chery Tiggo) a R$ 1 milhão (Range Rover SV Autobiography). Por isso os utilitários estão “roubando” vendas de vários segmentos.

Como cerca de 70% das vendas do segmento estão concentradas nos SUVs compactos, os modelos mais afetados pela expansão dessa categoria são os hatch de médio porte – onde estão classificados, por exemplo, o Volkswagen Golf (R$ 70 mil) e o Chevrolet Cruze (R$ 93 mil) – e os sedãs médios – como Toyota Corolla (R$ 90 mil) e Honda Civic (R$ 89,4 mil).

Em baixa

Há quatro anos, os sedãs médios abocanhavam 7,5% das vendas, fatia que hoje está em 6,4%. A participação dos hatch médios caiu de 2,2%, em 2015, para menos de 1% nos três primeiros meses deste ano. As peruas estão quase em extinção. “Em mercados como o americano, algumas fabricantes já começam a retirar hatches e sedãs de produção em benefício dos SUVs”, diz Custódio, da Roland Berger. Recentemente, por exemplo, a imprensa americana disse que a General Motors deve tirar o Sonic e o Impala de linha nos EUA; e a Ford, o Fiesta e o Taurus.

Desenvolvidos inicialmente como carros mais rústicos, para uso fora de estrada, os SUVs conquistaram consumidores que só rodam em cidades. Por isso, a gama de produtos vem se ampliando com versões para todo tipo de gosto, do pequenino Renault Kwid (R$ 31 mil) – chamado pela marca de SUV dos compactos, embora o mercado não o classifique como utilitário – até os luxuosos Porsche Macan (R$ 321 mil) e Jaguar F-Pace (R$ 322,5 mil).

De olho na rentabilidade

Fabricantes e consultorias preveem vendas de pouco mais de 1 milhão de utilitários esportivos no mercado brasileiro em 2022, o equivalente a 30% dos negócios totais de automóveis e comerciais leves. Todas as montadoras preparam estratégias para disputar o filão, visto como um dos mais rentáveis no meio automotivo.

“Vai haver uma competição acirrada, pois é um mercado promissor”, constata o diretor da Roland Berger, Rodrigo Custódio. Segundo ele, a margem de ganhos nesse segmento é significativa pois, normalmente, os SUVs são produzidos nas mesmas plataformas (bases) desenvolvidas para outros automóveis.

É o que vai ocorrer, por exemplo, com o T-Cross, primeiro utilitário que a Volkswagen fará no Brasil no início de 2019, na fábrica do Paraná. O modelo será produzido na mesma plataforma do hatch Polo e do sedã Virtus, lançados recentemente.

O Ford EcoSport, que popularizou no País o conceito de SUV, em 2003, teve como base o Fiesta; o Honda HR-V, o Fit; e o Hyundai Creta, o HB-20, para citar mais alguns exemplos.

A Volkswagen quer tirar o atraso da marca nesse segmento e promete ter cinco SUVs em seu portfólio num prazo de três anos. O primeiro a chegar ao mercado foi o Tiguan Allspace, de médio porte, lançado na semana passada. O modelo é importado do México e tem versões flex (com motores exportados pelo Brasil) e apenas a gasolina. Os preços vão de R$ 124,9 mil a R$ 180 mil.

Aposta

O preço do compacto T-Cross deverá ficar na casa dos R$ 70 mil, já que terá entre seus concorrentes o Hyundai Creta e o Jeep Renegade. Depois virão o Tarek, feito na Argentina, o Atlas, importado dos Estados Unidos, e talvez o Touareg, também importado. Mas há quem aposte em outro produto para o Brasil, provavelmente um carro menor que o T-Cross.

“De cada dez carros vendidos no Brasil, dois são SUVs e, em 2022, serão três”, diz Pablo Di Si, presidente da Volkswagen América do Sul e Brasil, que admite que a marca demorou a entrar com força no segmento.

É com esses produtos e outros 15 lançamentos previstos ao longo de quatro anos que a montadora espera voltar a ser líder do mercado no País, posto perdido em 2001 após 42 anos à frente das demais marcas.

A volta ao topo pode ocorrer ainda neste ano ou no próximo, mas o executivo ressalta que deverá ser de forma sustentável. “Se algum concorrente começar a fazer festival de promoções não vamos atrás, e podemos abrir mão da liderança.”

Na fila. A General Motors é outra marca que deve ter mais opções de SUV além do Tracker, importado do México, e do Trailblazer, fabricado em São José dos Campos. A marca promete novidades nesse segmento há alguns anos, e a data pode estar se aproximando, não necessariamente neste ano.

A Fiat Chrysler, segundo fontes do mercado, também trabalha num utilitário menor que o Renegade. E a Ford, por enquanto, aposta no novo EcoSport, lançado no ano passado.

Quem terá novidades ainda em 2018 é a Citroën, que iniciará a produção em Porto Real (RJ) do C4 Cactus. A Renault vai importar o Koleos, considerado um SUV de luxo, e promete o novo Duster para 2019.

A recém-lançada nova versão do Chery Tiggo também promete mexer no mercado, principalmente agora que a marca chinesa está sob comando do grupo Caoa – que produz em Goiás os modelos Tucson e ix35, da Hyundai.

Também há muitas novidades importadas, como o Kia Stonic, o novo Porsche Cayenne e o BMW X2.

‘Populares’ perdem espaço

O sucesso dos utilitários-esportivos no mercado brasileiro, na visão de analistas, é explicado, em parte, pelo interesse maior dos consumidores por tecnologia, conectividade e segurança embarcada nos veículos.

Tudo isso unido ao que pode-se chamar de nova onda no setor, já que os SUVs têm atraído jovens, famílias e executivos, em detrimento de modelos tradicionais tipo hatch e sedã, que também incorporam as novidades tecnológicas.

Embora esteja, de certa forma, à parte dessa disputa, o segmento de carros “de entrada” – como são chamados atualmente os antigos “populares” – também está perdendo participação no mercado nacional.

Dados da Federação Nacional dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenabrave) mostram seguida perda de representatividade dos modelos mais baratos nas vendas totais de automóveis e comerciais leves. Em 2003, eles representavam 44,3% do mercado, com 595,7 mil unidades vendidas. No ano passado responderam por 17,3% dos negócios, com 375,7 mil unidades e, neste primeiro trimestre, por apenas 16%, com 84,6 mil unidades.

“Mesmo os carros populares hoje já têm uma certa tecnologia considerável comparada com o passado mas, de fato, estão perdendo terreno”, diz Rafael Abe, diretor da consultoria Jato.

Além da busca por modelos mais equipados, uma das explicações é que o consumidor tradicional dos populares depende de crédito barato, e isso desapareceu do mercado nos últimos anos. Desemprego também inibe as vendas.

Pouca oferta

Mesmo nos melhores anos de mercado para os carros populares, de 2009 a 2012, quando as vendas anuais passavam de 900 mil unidades, a participação desse segmento diminuiu de 31,5% para 26,8% no período.

Hoje, os mais vendidos são Ford Ka (24 mil unidades neste ano), Volkswagen Gol (16,2 mil), Renault Kwid (13,6 mil), Fiat Mobi (12,3 mil) e Toyota Etios. Os preços variam de R$ 31 mil a R$ 44 mil,

A oferta de produtos dessa categoria também vem caindo. Neste ano, por exemplo, não há nenhum lançamento previsto.

O presidente da Volkswagen América do Sul e Brasil, Pablo Di Si, afirma que é difícil, atualmente, desenvolver um carro na faixa de R$ 30 mil. “Não vamos sacrificar tecnologia e segurança para poder estar nesse segmento.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

FONTE: https://exame.abril.com.br/

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