Relatório do Sindipeças mostra a importância da inspeção veicular, assunto que prefeitos e governadores evitam mexer por medo da reação negativa dos donos de automóveis.

Um dos efeitos da crise econômica no mercado de veículos: com a forte queda nas vendas de modelos novos que perdura há quatro anos, os automóveis que rodam pelas ruas das cidades brasileiras estão mais velhos.

A partir de 2006 foram nove anos seguidos de alta nas vendas de carros novos, graças aos fortes subsídios dados à indústria automotiva, aos financiamentos generosos e a perder de vista, além do controle artificial do preço da gasolina.

Com menos dinheiro para comprar o primeiro carro zero, ou para substituir o atual por um novo, o consumidor acabou usando carros mais antigos. A crise econômica elevou a idade média da frota em circulação para 9 anos e 4 meses, a mais alta desde 2006, ano em que a idade média dos automóveis brasileiros era de 9 anos e 2 meses.

Antes da crise econômica, em 2012, os carros com até cinco anos de uso (os seminovos) representavam 43% da frota. Hoje são 34%, conforme o estudo da frota brasileira recém-concluído pelo Sindipeças.

Perguntamos ao especialista Olimpio Alvares qual o efeito disso no meio ambiente, no aumento das emissões de poluentes.

DT – A crise, além de levar as pessoas a não trocar de carro, impacta também na manutenção dos carros mais velhos. Logo, quanto mais carros velhos e sem manutenção, pior para o ar que respiramos?

OLIMPIO ALVARES – Sem dúvida. Um carro mais antigo pode poluir muitas vezes mais que um mais novo. E se está em más condições, pode poluir muito mais ainda. Além disso, carros em más condições quebram mais nas ruas, causando grande número de congestionamentos localizados. O trafego em geral em congestionamento polui até três vezes mais do que em fluxo livre. Colocando um efeito em cima do outro, chega-se à situação atual catastrófica das cidades brasileiras congestionadas, com emissões médias muitas vezes superiores às cidades sem congestionamento e com frota devidamente inspecionada e regulada.

DT – Esta não seria uma boa hora pra se discutir – mais uma vez – seriamente a questão da inspeção veicular ambiental?

OLIMPIO ALVARES – Claro que sim. Aliás, esse assunto não pode sair de pauta. Isso porque a ausência da inspeção em São Paulo e no restante do País mata milhares de pessoas todos os anos, não só por doenças cardiorrespiratórias, mas também pelos acidentes de trânsito causados por falhas nos veículos, situações que poderiam ser evitadas com sua reparação sistemática, conforme apontadas na verificação obrigatória periódica. No caso da contaminação atmosférica por material particulado ultrafino cancerígeno oriundo do diesel – que mata dezoito mil pessoas anualmente no Estado de São Paulo, oito mil só na Região Metropolitana – a inspeção poderia reduzir as emissões da frota em cerca de 20%, implicando melhoria da qualidade do ar em quase 10%.

Isso é muito mais do que qualquer outra medida de controle da poluição do ar poderia realizar – a custo zero; isso porque a economia de combustível auferida com a inspeção veicular ao longo do período entre-inspeções pode compensar gastos com a tarifa, manutenção e reparação do veículo – sem contar os benefícios sociais e econômicos bilionários relacionados com a redução dos acidentes e dos índices de morbi-mortalidade por doenças cardiorrespiratórias.

DT – Mas basta a cidade fazer inspeção? Como fica o entorno, as outras cidades da Região Metropolitana?

OLIMPIO ALVARES – Claro que não. Pois saiba que existe uma Lei Federal (nº 9.503), que em seu artigo 104 obriga, desde 1997 – portanto há 20 anos! – os Estados e o Município de São Paulo a implementarem a inspeção técnica veicular. Esse programa é um dos componentes obrigatórios de uma lista de medidas essenciais básicas de proteção e melhoria da qualidade do ar e da segurança viária, sendo praticado regularmente em todos os países civilizados.

 

Fonte: https://diariodotransporte.com.br/2017/05/20/frota-mais-velha-torna-o-ar-mais-poluido-e-o-transito-mais-perigoso/

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